A Terra Firme dá as ferramentas para que a criança descubra os códigos no uso contextualizado da palavra. Para Sandra Cornelsen, quem pensa aprende e o objetivo da escola é ensinar a pensar!

O processo de alfabetização é fundamental. É ele que nos introduz no mundo da comunicação por meio da análise e síntese de letras, sílabas, palavras e frases, e sua influência servirá para toda a vida. É necessário que esse momento tão importante da nossa existência seja vivido de forma efetiva, com o comprometimento da criança no processo e a mediação de sua professora ou professor para facilitá-lo. Aprender a ler e escrever não é algo artificial ou distante do cotidiano e a nossa forma de relacionamentos humanos é, em grande parte, estruturada na língua escrita. Mas, para ser mais proveitosa, essa habilidade deve ser inserida na vida da criança de forma gradual e segura, sem pressões, mas gerando o desafio de que ela possa seguir o seu rumo em solo firme e tenha prazer em se superar, principalmente para si mesma, gerando a segurança imprescindível e elevando a autoestima. Isso gera um círculo virtuoso que facilita todo o processo.

Não é à toa que a Escola Terra Firme tem esse nome. É que ela se pretende a construir o solo firme e adequado para que a criança possa se desenvolver, com o compromisso que somente a satisfação pelo desafio de aprender pode proporcionar. No processo de alfabetização, há o trabalho com os princípios de análise e síntese, já na pré-escola e no 1º ano. Sandra Cornelsen, fundadora e diretora da Terra Firme, explica que as noções de análise e síntese são muito importantes para o processo de alfabetização. “Isso significa desenvolver nos alunos a capacidade de juntar as partes para formar o todo e decompor o todo em partes, que é o fundamento da alfabetização”.

Sandra diz que o objetivo é preparar o aluno e incentivá-lo a desenvolver a capacidade de gostar de buscar o conhecimento, em um movimento de aprender a aprender, e a linguagem escrita tem lugar central nesse percurso. “Aprender a aprender só é possível se nossos alunos puderem se apropriar dessa forma de linguagem para fazer suas investigações e expressar suas conclusões. A linguagem escrita, vista como instrumento de registro e informação necessária para o desenvolvimento histórico, tem lugar privilegiado em nossa prática pedagógica”, afirma.

Cirandeiros

Na Terra Firme as crianças trabalham em grupos, explorando também o espaço fora da sala de aula, com pesquisas, jogos, levantamento de hipóteses, coleta de dados e discussões sobre diferentes pontos de vista. É a teoria e a prática em sintonia com um aprendizado concreto. Dessa forma, a dinâmica interdisciplinar envolve todo o desenvolvimento dos projetos. Para Laura Monte Serrat Barbosa, pedagoga e psicopedagoga, “Na Terra Firme, trabalha-se em cirandas, nas quais se dança uma mesma música de várias maneiras e as diferenças enriquecem os ‘cirandeiros’, que estão sempre crescendo em espiral”.

Educação Infantil

Camila Guitti Luppi, Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil da Escola Terra Firme, completa a fala da psicopedagoga. “Na Terra Firme não há competição para a criança aprender, ela tem seu tempo. Aprende com as outras e com as diferenças”, afirma. Para ela, a construção da alfabetização é feita pela criança e o professor é apenas um mediador. “Assim como todos os outros processos de aprendizagem que nos são naturais, como o andar e o comer, a alfabetização tem um processo e nesse processo há estímulos, que funcionam para facilitar o aprendizado e a maturação, mas é preciso ter claro que sem isso a criança também aprenderá de algum modo, assim como estimular excessivamente acarreta outros problemas”, explica. Segundo Camila, o importante é saber estimular na dose certa, oferecendo a base para o desenvolvimento da criança.

A tese é a de que a criança aprende com mais facilidade se aquilo que ela está aprendendo lhe der prazer, se ela estiver integralmente concentrada neste desafio, consolidando um compromisso consigo própria e com o desenvolvimento de seus colegas. “As crianças se divertem e participam de um processo de aprendizagem constantemente construído por elas, que são as autoras de seu aprendizado e, é claro, de suas próprias vidas. Esse interesse facilita a alfabetização, porque quando se tem curiosidade de conhecer algo, vai em busca, pensa, quer saber como comunicar aquilo, com que letra que começa, aonde colocar cada letra e assim por diante. O processo vem desde a educação infantil, sempre com novos desafios”, diz Camila. Ela ainda explica que, na metodologia de projetos adotada pela escola, é sempre o aluno que constrói o percurso de suas descobertas, em um ambiente de interatividade com os colegas e de multidisciplinaridade.

Transição

Thamy Padilha, Coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental, explica que o primeiro ano é um pouco mais lúdico e as crianças aprendem a formar a base para o desenvolvimento da habilidade de ler e escrever, em um processo cuja duração varia de acordo com cada criança, mas deve estar concluído no segundo ano.

Ela também compreende que o desenvolvimento das noções de análise e síntese é imprescindível para o processo de alfabetização nos primeiros momentos da alfabetização e afirma que, no segundo ano, a maturidade já está bem mais aprimorada do que no primeiro e as crianças encontram maior facilidade para fazer as relações fonéticas. “Principalmente na questão de entender os símbolos, tanto a letra quanto o número, conseguir, assim, formar palavras e entender aquilo que se está escrevendo ou falando. Essa maturidade, em parte estimulada pelo trabalho realizado no primeiro ano, já traz a possibilidade de formar palavras, frases, e pequenos textos, além da capacidade de interpretação do que se está lendo, no momento em que se lê. É um processo lento que é aprimorado ao longo do tempo e cada qual tem o seu próprio tempo para fazer isso”, diz.

Base teórica

A Terra Firme segue os ensinamentos de Emília Ferreiro, psicolinguista argentina, discípula de Piaget, que estudou a aquisição da linguagem e escrita em crianças de diversas partes do mundo. Para ela a criança passa por uma série de passos ordenados antes que compreenda a natureza de nosso sistema alfabético de escrita, e cada passo caracteriza-se por esquemas conceituais específicos. Esses esquemas implicam sempre um processo construtivo nas quais as crianças levam em conta parte da informação dada, e introduzem sempre, ao mesmo tempo, algo de pessoal. O resultado são construções originais, tão estranhas ao nosso modo de pensar, que, à primeira vista, parecem caóticas, mas é o caminho para o desenvolvimento da leitura e escrita.

Segundo Ferreiro, a alfabetização tradicional costuma trabalhar apenas com avaliações de percepção, como a capacidade de discriminar sons e sinais, e de motricidade, principalmente a ordenação e orientação espacial. Por conta disso, há um peso excessivo posto no saber desenhar as letras, o aspecto exterior da escrita, sem que haja o mesmo peso na conceituação dos momentos do processo, como a compreensão da natureza da escrita e da sua organização. Assim, os métodos tradicionais se focam apenas na introdução à escrita pela repetição de palavras simples e sonoras, como papá, babá, vovô etc., mas isso, do ponto de vista do aprendizado, não é bom, pois as palavras não se relacionam a praticamente nada, principalmente porque são tratadas de forma isolada.