Uma das atrações das atividades de Educação Física da professora Daniela Carneiro, a Dani, é a idealização e a criação de jogos. Trata-se de tarefa divertida e instrutiva, pois permite fazer exercícios imaginativos e trabalhar conteúdos que são vistos paralelamente em outras disciplinas, como matemática, história e ciências, envolvendo cálculo de medidas diversas, estudos acerca da origem de jogos conhecidos e um aprofundamento no conhecimento das possibilidades do corpo humano. Segundo Dani, na escola há uma boa integração para essa forma de trabalho. “Trabalhamos de modo interdisciplinar, de acordo com o Eixo Pedagógico da Terra Firme, construindo pontes entre os conteúdos e as práticas de cada disciplina, um professor apoiando o outro”.
Os jogos criados envolvem não apenas esforço físico e determinação esportiva, como também cognição e trabalho colaborativo, pois as equipes devem, a cada início de partida, reexaminar e, se for o caso, recombinar regras, sem esquecer de elaborar estratégias de ataque e defesa. Além disso, como no jogo batizado de “Matrix” pelos alunos, há, ainda, a proposta de uma atitude essencialmente ética, pois cada jogador tem o compromisso de, ele mesmo, arbitrar o seu comportamento durante as partidas.
Se for tocado ou atingido por um adversário, bem como se cometer alguma infração, é o próprio participante que deve se punir, saindo da partida e somente retornando quando um membro da equipe adversária também seja excluído, conforme a regra. “Nesse jogo não tem juiz e tudo tem que ser resolvido entre os jogadores. Interpretações à parte, as regras são claras, mas às vezes acontece de haver pedidos de esclarecimento sobre algum lance, o que é normal”, comenta Dani.
Jogar dançando ou dançar jogando – “Matrix” incorpora princípios e práticas de diversos jogos preexistentes, incluindo o conhecido “pique bandeira” e até basquete, pois há a possibilidade de marcar pontos conseguindo acertar a cesta com uma bola especial. É praticado com música e, durante uma partida, há quem não resista e jogue dançando ou imitando os movimentos de um guitarrista. “A música é fundamental e dita o ritmo do jogo”, diz a professora.
No “Matrix”, há duas equipes que devem “capturar” as “bandeiras” do adversário, geralmente 5, que ficam na extremidade de cada lado da quadra, e levá-las até onde estão as suas. Se todas forem capturadas, o time marca um ponto. Há os que atacam e os que defendem, estes tentando evitar as investidas daqueles, que, se tocados, saem temporariamente do jogo. Cada time tem um “arqueiro”, um aluno ou aluna que fica com uma bola e deve tentar alvejar os adversários invasores. Se conseguir, também os retira da quadra, mas há uma “zona morta”, na qual os “tiros” do arqueiro não têm efeito e onde os defensores não podem entrar. Assim, a defesa tem que vigiar constantemente a entrada dessa zona, no fundo da qual ficam as bandeiras.
Cesta vale 10 – Uma peculiaridade do jogo é que, no centro do campo, há uma bola, que pode ser arremessada do meio da quadra para tentar acertar a cesta, marcando 10 pontos. O problema é que se o arremesso não tiver sucesso, quem o tentou também é retirado do jogo, como os atacantes tocados pelos defensores ou alvejados pelo arqueiro.
Há muita correria e dribles de corpo, muitos arremessos dos “arqueiros”, e cada aluno tocado ou atingido cumpre voluntariamente a punição estabelecida na regra. Se alguém entender que um membro da equipe adversária não aplicou a regra ética, deve falar sobre isso com o suposto infrator e a questão deve ser resolvida entre os dois, com conversa e argumentos. Se o acusador não fizer isso e recorrer à autoridade da professora para impôr a sua vontade, unilateralmente, é punido com a exclusão temporária. “A proposta é valorizar a postura ética de cada participante e cada um deve se responsabilizar pela sua própria atitude e merecer a confiança dos demais”, explica a professora Dani.
Goleada – Em jogo recente, disputado pelos alunos e alunas da turma do 6º ano, a partida foi muito disputada e a regra ética cumprida por todos. O placar de 0x0 só foi alterado quando o professor Leonardo Guadagnin, o Leo, que jogava em uma equipe, conseguiu uma cesta e marcou 10 pontos. Porém, a alegria durou pouco, já que a professora Dani, que integrava a equipe adversária, conseguiu não apenas virar o placar, mas comandar uma goleada de seu time sobre o de Leo, marcando três cestas. O aluno Esteban Weigel marcou outras duas e o resultado final ficou em 50 x 10 para o time de Dani, mas todos comemoraram, pois o importante foi, no fim das contas, a satisfação de jogar.
Texto: Luiz Geremias
Fotos: Gilson Camargo