Para a diretora e idealizadora da escola, Sandra Cornelsen, a aprendizagem começa com o brincar e continua com o lúdico. Segundo Sandra, o espaço de lazer da escola não é um simples “parquinho”, mas “O Quintal”. “No Quintal temos a continuidade das casas de antigamente, onde se podia subir em árvores, colher frutos e comê-los, andar descalço no calor, brincar na areia, construir histórias. Desafiamos o corpo com brinquedos imaginados pelos alunos e recriados por marceneiros, assim eles sentem e descobrem suas possibilidades. Os jogos são favorecidos, tanto nas quadras como nas casinhas, onde os alunos brincam e o adulto participa como mediador brincando”, explica.

Alunos de diferentes idades, do jardim ao nono ano, se misturam no “Quintal” em horários de integração. Os mais velhos ensinam os mais jovens e, segundo Sandra, isso é possível devido à psicomotricidade relacional desenvolvida na escola.

Na Terra Firme, o brincar promove a criatividade e a autonomia. “A maturidade só é possível com a criação da identidade própria. Na psicomotricidade relacional, por meio da brincadeira passamos a nos ver e a ver o outro, o que é fundamental no processo de formação da identidade”, afirma Sandra.

“O corpo em movimento, na sua agitação emocional e criadora, não é admitido na escola, senão durante as “recreações”, sob o olhar do professor que, a rigor, observa, evitando misturar sua autoridade a esses jogos pueris. É a vida, contida por um tempo muito longo, que explode. É precisamente essa vida e esse movimento que nos interessam, e com eles queremos trabalhar, pois são a única expressão verdadeira da criança.”
(LAPIERRE e AUCOUTURIER, 2004)

Metodologia dos Projetos incentiva a aprendizagem lúdica

Na Terra Firme, os projetos partem do desejo do aluno na escolha do tema, que deverá se relacionar com o Eixo Temático anual (escolhido pelos professores). Esta metodologia é um dos facilitadores da aprendizagem por meio do brincar. O brincar permeia todas as disciplinas, tanto no ensino fundamental quanto na educação infantil.

Como, por exemplo, nas turmas do 3º ano, os projetos do segundo e terceiro bimestre foram relacionados a amizade, “Amigo é coisa para…” e “Convivendo”, pois, segundo a Professora Liz Volino, o tema do projeto propiciou momentos de integração que foram fortalecidos pelas brincadeiras. “Com o brincar eles aprendem os limites perante o outro e também a terem liberdade, pois o brincar não tem dono, mas é preciso saber o que o outro pensa para poder ter interação. Os alunos e alunas também entrevistaram os avôs e avós sobre as brincadeiras de antigamente e com isso vivenciaram brincadeiras antigas”, conta Liz.

No quarto ano a brincadeira se tornou filosofia com o tema “Brinco, logo existo”. Os alunos construíram uma cidade chamada Brincante, onde introduzem todos os conteúdos, principalmente os considerados os mais difíceis, que se tornam interessantes quando a eles é dado um outro olhar.

Mara Ferreira, professora regente do quarto ano diz que para eles não existe a possibilidade do não brincar, a brincadeira acontece o tempo todo. Lá, brincar é coisa séria… “Para estimular a construção de Brincante, perguntamos às crianças se conseguem imaginar como é essa cidade. Suas ruas, suas casas, seus moradores. Quais são seus costumes, sua rotina? Como será viver nessa cidade? Será que todos são felizes nas coisas que fazem? Será que eles só brincam, ou fazem alguma outra coisa? E a partir de toda essa imaginação construímos saberes de forma leve e divertida”, explica Mara.

Jogos Simbólicos

O jogo simbólico desempenha o papel de construção, por meio do faz de conta, do mundo imaginário mesclado com o mundo real, com a geração e a solução de conflitos. Oscilando entre o desequilíbrio e o equilíbrio, o exterior e o interior, fundamentado no intelectual e no afetivo, o jogo possibilita a cada nova construção do conhecimento, uma reconstrução da nossa ação sobre o meio.