“A escola trabalha com a psicomotricidade relacional com alunos, alunas, professores e professoras, apostando na disponibilidade corporal como veículo que promove as relações entre sujeitos e conteúdos. Para tanto, utiliza-se a metodologia de projetos, incentivando o acolhimento e amor para formar um ser humano ético, crítico e solidário.”
Sandra Cornelsen

A formação humana envolve o desenvolvimento de muitas capacidades e competências. Há quem pense que a escola deve ser eficiente apenas no que diz respeito ao desenvolvimento da cognição, como objetivo intrínseco da sua prática pedagógica. No entanto, a experiência tem mostrado que isso não basta. Em uma realidade complexa, é fundamental que a escola dê atenção especial também ao desenvolvimento emocional e afetivo de seus alunos, fornecendo-lhes uma base sólida para o crescimento e, assim, formando seres humanos completos. A diretora da escola Terra Firme, Sandra Cornelsen, explica que a atenção é integral e a chave para o sucesso está na proposta pedagógica que é construída tendo cada aluno e aluna como centro, com uma equipe pedagógica sempre disponível para acompanhá-los no seu desenvolvimento escolar e pessoal.

Sandra conta que a Terra Firme se propõe a formar não apenas estudantes, mas seres humanos com sensibilidade e uma formação ética que lhes forneça clareza em relação a seus deveres e direitos como cidadãos e cidadãs. “Nosso objetivo é formar o aluno que pensa, sente e aprende e isso se consegue com uma equipe pedagógica disponível, observando atentamente cada aluno ou aluna individualmente, sem excluir ninguém, levando em conta cada individualidade e fornecendo segurança para que crianças e adolescentes vivenciem com sucesso cada fase de seu amadurecimento”, define. E ela explica o que é necessário para isso: “Uma equipe pedagógica disponível que funciona como mediadora dos processos de aprendizagem e de amadurecimento, observando atentamente o indivíduo e sua individualidade, seu jeito de ser, aprender e crescer”.

Psicomotricidade Relacional

Um dos fatores mais importantes para uma educação de qualidade com uma formação humanística e cidadã é a disponibilidade das professoras e professores da Terra Firme em relação a alunos e alunas, diz Sandra. É que eles têm atenção especial, com supervisão constante e participação em momentos reflexivos, principalmente com a Psicomotricidade Relacional. Assim, podem vivenciar seus conflitos positivamente, se aprimorando como seres humanos. “Não estamos falando de máquinas que chegam à escola e vão dar aula, de jeito nenhum. Professores e professoras trazem, cada um, sua pessoalidade, sua vida, seus problemas e conflitos e o instrumento de que dispomos para cuidar bem deles é a Psicomotricidade Relacional. É a melhor forma de garantir que haja disponibilidade dos professores e professoras em relação aos estudantes e, se há disponibilidade por parte da equipe docente, quem ganha sempre são os alunos e alunas da escola”, explica.

Ensino Horizontal

Para Sandra, é necessário que o professor tenha o conhecimento adequado para observar tanto o grupo nas suas interrelações como o indivíduo que precisa de atenção especial. A disposição das carteiras nas salas de aula é circular, de forma que seja incentivada a interrelação entre alunos e também com o professor ou professora, que compõe o grupo como participante ativo. “O professor aprende a olhar, a perceber o todo e a ler cada aluno em especial, participando do grupo, sem deixar de oferecer atenção a cada um de forma singular, porque toda a nossa proposta pedagógica é construída para o aluno e só tem sentido se o aluno for o centro de tudo o que fazemos”, diz.

Acolhimento desde o início

A chegada na Terra Firme tem uma mediação amorosa por parte da direção, da coordenação e de toda a equipe pedagógica, bem como de alunos e alunas. Quem chega é recebido no portão pela diretora ou pela coordenadora pedagógica Thamy Padilha e um trabalho de acolhimento se inicia, com a participação dos alunos e alunas da série na qual a criança irá ingressar. “É para o novo aluno ou aluna conhecer a escola e a escola conhecer o novo aluno ou aluna, reduzir dificuldades, pois fica mais fácil para quem chega e para quem recebe, assim como uma almofada para reduzir o impacto da mudança”, afirma.

Tempo para crescer e amadurecer

Isso acontece todo o tempo na Terra. Desde o ingresso na escola, alunos e alunas são tratados com atenção e disponibilidade integral por parte da equipe pedagógica, que inclui funcionários e funcionárias. Os que estão quase saindo, os adolescentes que cursarão o ensino médio, recebem tratamento pedagógico e humano conforme suas idades, sua fase no desenvolvimento e maturação. “Na adolescência, se inicia um conflito que é o de crescer ou brincar e na Terra Firme nós apaziguamos esse conflito mediando a relação deles com o aprendizado e o desenvolvimento pessoal. É claro que pode brincar e pode brincar muito, até descobrir que se pode aprender muito brincando, sem deixar de lado a seriedade necessária para crescer e estudar, há tempo para tudo. Assim, eles se mostram tranquilos no percurso do crescimento e do aprendizado”, explica Thamy.

Há, inclusive um ciclo de eventos que funciona como um ritual de passagem, que marca estágios de crescimento, maturação e conquistas. Começando no sexto ano, alunos e alunas passam por uma aventura promovida pela escola. No sexto, há o dia de aventuras, com escalada, arvorismo e outras atividades. O sétimo faz um acantonamento na escola, o oitavo acampa fora da escola e o nono faz uma viagem. “É um momento de lazer e de interação que vai além do trabalho pedagógico, além do trabalho em sala de aula e nesses momentos alunos e alunas se tornam mais cúmplices entre si e também em relação à equipe pedagógica. Além disso, é uma espécie de ritual continuado no qual as dificuldades vão aumentando e as exigências de maturidade vão se tornando mais complexas. E eles vão tendo uma referência de suas mudanças de fase”, diz.

Metodologia de Projeto e Humanização

Segundo a coordenadora, há todo um trabalho visando uma relação de respeito entre todos na Terra Firme e o objetivo é que a criança aprenda, mas que também pesquise, descubra, pense sobre o lado humano envolvido em tudo o que estuda. “Isso está nas propostas do projeto que as turmas desenvolvem, que sempre trazem algum tipo de reflexão. Por exemplo, se uma turma está desenvolvendo o projeto com o tema ‘Animais’ e há o estudo científico, também há a reflexão da relação do ser humano com os animais, o respeito por outro ser vivo. Sempre há esse caráter reflexivo e para quem cresce na Terra Firme isso vem desde muito cedo”, diz.

Conflitos bem resolvidos

Conflitos existem e precisam ser encarados. Há situações em que a turma se divide e ocorrem confrontos de ideias e provocações diversas e, muitas vezes, o conflito é uma forma de interagir, principalmente quando ainda não se conhece outra mais adequada. Para perceber isso, porém, é preciso um olhar diferenciado e a vivência que professores e professoras têm na Psicomotricidade Relacional é um diferencial. Diogo Souza, professor de Educação Física e também psicomotricista relacional diz que assim tudo fica mais fácil. “É um olhar humano que permite acesso a uma relação próxima e consciente com alunos e alunas, facilitando a resolução dos conflitos, que são vivenciados na Psicomotricidade Relacional e também nas aulas. No meu caso, somente as técnicas da Educação Física não me permitiriam ter o nível de envolvimento que tenho com eles”.

Diogo teve a oportunidade de ser um elemento fundamental na vivência positiva em diversas turmas. Em uma delas, na qual havia um confronto aberto, com provocações, quando o assunto foi planejar uma apresentação para a Mostra de Projetos, a música foi o ponto de encontro de todos, em um objetivo comum. Após a apresentação, alunos e alunas incluíram os pais na apresentação musical, que foi extremamente doce e emocionante. “Eles não estavam encontrando outra forma de interagir naquele momento, mas quando precisaram se relacionar para a apresentação, escolheram uma música doce e as brigas deixaram de existir, todos elaboraram a coreografia, que tinha uma roda da qual todos participaram. Resolveu-se naquele momento o conflito com a expressividade e com a vontade de estar junto”, explica.

A proposta inclusiva da escola, a forma como dá suporte a toda a equipe pedagógica, a harmonia de propósitos no essencial, que é mediar a relação do aluno com o conhecimento, são elementos que possibilitam que conflitos como esse sejam vivenciados de forma positiva e resolvidos. “Há uma relação de respeito mútuo entre todos e a inclusão em projetos que sempre trazem alguma proposta reflexiva e despertam o interesse na participação coletiva, pois percebem que não há a necessidade de sempre estar competindo e de sobrepujar o outro”, afirma Diogo.