Para Sandra Cornelsen, é por meio do movimento e da ação sobre o outro e sobre os objetos que se podem reviver simbolicamente os conflitos e reconstruir passo-a-passo o esquema afetivo.

Uma das ferramentas pedagógicas essenciais utilizadas na Escola Terra Firme é o Jogo Simbólico. Nele, a representação corporal é trabalhada e há o estímulo para a percepção da diferença entre o eu e o outro, aproximando o brincar da realidade. Esse recurso tem grande importância para a formação social da criança, fortalecendo o processo de construção da identidade. Trata-se daquilo que conhecemos popularmente como o “faz-de-conta” e, por meio da utilização desse recurso, busca-se o estímulo ao pensamento pelo exercício da imaginação, incentivando a inserção social com autonomia e criatividade.

A criança é o personagem de uma estória, às vezes sugerida pelo professor, outras vezes criada por ela, que explora o espaço dentro e fora da sala de aula, levanta hipóteses, coleta dados e aborda diversos pontos de vista. Segundo a diretora da Terra Firme, Sandra Cornelsen, o jogo simbólico desempenha o papel de facilitador na construção do conhecimento e na ressignificação criativa da relação com a realidade. “É por meio do faz-de-conta, fundamentado no intelectual e no afetivo, do mundo imaginário mesclado com o mundo real, com a geração e a solução de conflitos oscilando entre o desequilíbrio e o equilíbrio, o exterior e o interior, que o jogo simbólico possibilita, a cada nova construção do conhecimento, uma reconstrução da nossa ação sobre o meio”, explica.

A coordenadora da Educação Infantil, Camila Guitti Luppi, diz que uma das características desses jogos é a criança viver os papéis sociais, se colocando no lugar do outro, muitas vezes do adulto. “A criança não é só um aluno, ela tem um contexto social, é também filha, amiga, e é preciso transitar nesses papéis sociais. Com o jogo simbólico, ela desenvolve, por meio da brincadeira, essa transição. Quanto mais jogos simbólicos nós fizermos com as crianças, mais preparadas elas estarão para circular pela sociedade quando adultas”, diz.

Agir e transformar

Para Piaget, os conhecimentos derivam da ação, não no sentido de meras respostas associativas, mas no sentido muito mais profundo da associação do real ao eu, com as coordenações necessárias e gerais da ação, pois para conhecer um objeto é preciso agir sobre ele e transformá-lo, apreendendo os mecanismos dessa transformação vinculados com as ações transformadoras. Piaget também aponta o jogo como um instrumento simbólico que possui cinco critérios fundamentais na sua formação: o primeiro é o fato de encontrar sua finalidade em si mesmo; o segundo é a espontaneidade que o jogo possibilita; um terceiro critério amiúde utilizado é o do prazer; um quarto critério formulado é a relativa falta de organização no jogo; e, finalmente, o mais interessante, segundo Sandra Cornelsen, é a oportunidade que oferece para a libertação dos conflitos: “O jogo ignora os conflitos ou, se os encontra, é para libertar o eu por uma solução de compensação ou de liquidação”.

Texto e fotos: Karina Ernsen