No dia 04 de março, pais e mães dos alunos e alunas do 1º ano participaram, em interação on line, da Oficina de Alfabetização da Escola Terra Firme. O objetivo foi envolver as famílias no processo de aprendizado da leitura e da escrita, vivenciado pelas crianças não apenas na escola, mas principalmente em casa, esclarecendo como se dão os passos em direção à alfabetização. A oficina propõe uma vivência singular aos familiares presentes, proporcionando que adultos relembrem o momento em tiveram o primeiro contato com as letras.

Essa integração à proposta pedagógica da escola contribui para a participação ativa dos familiares na construção de conhecimentos das crianças, que resultará no domínio da língua e marca uma importante conquista para todos os envolvidos. É o que pensa Sandra Cornelsen, fundadora e diretora pedagógica da Terra, que abriu a oficina apresentando a orientadora pedagógica Ana Carollina Brofman – ressaltando seu importante trabalho no acolhimento e atenção a alunos, alunas e familiares – e se pôs à disposição dos presentes.

Fundamentação teórica

Sandra avalia a Oficina de Alfabetização como fundamental, principalmente na realidade do distanciamento social. “Precisamos saber como as famílias estão, mostrar como trabalhamos e, neste momento em que os pais e mães não podem entrar na escola, a oficina permite que eles se conscientizem acerca da proposta pedagógica da Terra Firme. É muito importante a participação das famílias na educação e nós valorizamos isso”.

Ela define a fundamentação teórica que embasa a proposta pedagógica da Terra citando Emilia Ferreiro, uma psicopedagoga argentina radicada no México. Ferreiro foi discípula de Jean Piaget e trabalha com a noção de que o desenvolvimento cognitivo é uma construção contínua, trazendo o foco de Piaget, que estava na matemática, para o aprendizado da língua. No ponto de vista de Ferreiro, a alfabetização começa mesmo antes do ingresso na escola, com cada criança se desenvolvendo no seu ritmo próprio. “A criança aprende a ler quando abre os olhos, quando começa a tentar entender o mundo, e não para mais. Há pais que comparam o desempenho dos filhos com o de outras crianças, mas isso não deve ser feito e deixamos claro isso na oficina. Cada um tem o seu tempo”, disse. A diretora citou, ainda, a base teórica de Andre Lapierre, que, com a psicomotricidade relacional praticada na Terra, ajuda bastante no processo, pois a criança desde cedo aprende a ler o seu corpo.

Aprendendo com a construção de hipóteses

Também citando Emilia Ferreiro, a professora Solange Jankowski Palmeiro, do 1º ano X, carinhosamente conhecida como “Xuxa”, disse aos pais e mães presentes que o ambiente escolar da Terra Firme é alfabetizador, facilitando a aproximação das crianças com as letras e palavras. Além disso, ela explicou, em linhas gerais, como se dá a aprendizagem. “A criança constrói hipóteses, uma sequência delas, testa-as e produz sistemas interpretativos para entender o que a cerca. Passa por etapas, vai e volta nelas, descobre coisas e é assim que tem prazer em aprender”.

Katia Bassetti, do 1º K, falou sobre a diferença da prática pedagógica contemporânea em relação àquela praticada no passado. “Antes, o foco estava no professor que ensina, agora está na criança que aprende, que traz a sua história, o seu jeito próprio, para o processo de aprendizagem”. Com a ajuda de slides, pôde expor com clareza os passos que a criança dá para alcançar o domínio da leitura e escrita. Com muito interesse na apresentação, que distinguiu as hipóteses “silábica”, “silábica com valor sonoro”, “silábica alfabética” e “alfabética”, os participantes da oficina acompanharam as formas de escrita que a criança que se alfabetiza vai construindo, demonstrando seus avanços.

Aprender a ver, aprender a ler

Xuxa e Katia orientaram os pais a acreditar que seus filhos e filhas podem aprender. Sugeriram fazer dos momentos comuns oportunidades de aprendizagem, deixando recados simples escritos para aumentar o repertório da criança que se alfabetiza (“durma bem”, “feche a geladeira”, por exemplo) mostrar o título de um livro, fazer junto a lista do mercado. A leitura do livro “O menino que aprendeu a ver”, feita por Xuxa e acompanhada pela exibição de cada página na tela, foi bastante ilustrativa. A história narra as aventuras cognitivas de quem começa vendo, na rua, as placas cheias de rabiscos e desenhos e termina entendendo que aquilo que interpretava como desenhos eram, na verdade, letras.

Os familiares formularam questões, como sobre a preocupação de oferecer estímulos antes do tempo certo e sobre o aprendizado conhecido como “silabação”. Foram esclarecidos de que há uma diferença marcante entre estimular e forçar a aprender algo que a criança ainda não tem condições de aprender. Os exercícios de caligrafia, por exemplo, não são recomendados até que a criança tenha domínio da escrita. Quanto à silabação, a percepção da equipe pedagógica é que o aprendizado das letras e palavras tem um grande ganho intelectual para as crianças, pois estas trabalham com a formação de símbolos não com unidades sonoras. Afinal, conforme lembrou a professora Katia Bassetti, “Nem sempre B+A forma BA”.