A Escola Terra Firme realizou, no dia 25/04, a Oficina de Alfabetização de 2019, com a participação de familiares dos alunos e alunas do 1º ano e os dos alunos novos que se encontram no 2º ano. A Oficina oferece esclarecimentos importantes sobre os níveis cognitivos da alfabetização e propõe aos adultos presentes uma experiência de revivência dos seus primeiros contatos com a escrita, utilizando cartões em que as palavras são compostas e construídas com símbolos que representam letras, numa situação que simula o modo como se dão as primeiras aproximações da criança com o alfabeto.

Trata-se de uma oportunidade de os adultos recuperarem os antigos registros de memória do tempo em que se alfabetizavam e, desse modo, compreender melhor o momento em que seus filhos e filhas vivem quando têm o primeiro contato com a escrita. Com essa experiência, tomam consciência da evolução no processo e podem ajudar com mais facilidade a criança a evoluir em suas fases cognitivas, sempre respeitando o tempo individual. Além disso, tornam-se mais próximos do trabalho realizado na escola e passam a ser parceiros importantes da equipe pedagógica, beneficiando a experiência de aprendizado e reforçando o ambiente alfabetizador proposto pela escola.

“A ideia é que pais e mães vivam essa relação com a escrita de forma análoga a que os alunos experimentam neste momento”, explica Camila Guitti Luppi, coordenadora da Educação Infantil, e do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental I. Ela diz ainda que isso tranquiliza os familiares, que muitas vezes sentem angústia com relação à evolução dos filhos. “Há pais e mães que chegam para a oficina preocupados com o processo de alfabetização dos filhos, esperam ansiosos a hora de fazer perguntas e o que acontece é que a maior parte já fica esclarecida pela apresentação feita na oficina e, é claro, pela prática de identificação de símbolos, que tem a função de colocar o adulto em contato com o que vive a criança que se alfabetiza e que foi o que ele mesmo viveu há muito tempo”.

No tempo certo – Na Oficina de Alfabetização deste ano, houve uma novidade. Os exemplos que ilustram os passos do aprendizado do sistema alfabético de escrita foram das próprias crianças, demonstrando os avanços de cada uma e os significados cognitivos dos progressos realizados. A professora do 1º ano, Francesca Tockus, a Fran, afirma que todas as crianças têm o seu tempo próprio, cada uma com seu ritmo no aprendizado. “Todos passamos pelas mesmas fases de desenvolvimento cognitivo e, cada qual do seu jeito e com o seu tempo, as crianças alcançam a compreensão do processo de escrita com o método que utilizamos na Terra Firme, que é fundamentado no trabalho de Emilia Ferreiro e que não vi aplicado nas outras escolas em que trabalhei”, afirma.

Hipóteses – A psicóloga e pedagoga Emilia Ferreiro é argentina, radicada no México, e discípula de Piaget. Dedicou-se a estudar e pesquisar o processo de alfabetização e acabou por promover uma radical mudança na forma como esse processo é abordado na pedagogia contemporânea. A coordenadora Camila explica que o foco passou daquilo que o professor ensina para o que o aluno aprende. “O tempo todo as crianças elaboram hipóteses e sistemas interpretativos para se aproximar da escrita padrão, todas fazem isso. E isso é assim porque é humano, porque a escrita tem um valor social inestimável e o percurso para o seu domínio está marcado em nós e vai acontecendo em fases com uma evolução dessas hipóteses e sistemas interpretativos, que são claramente perceptíveis na sala de aula”.

Ambiente alfabetizador – Para incentivar e facilitar o domínio da linguagem escrita, Camila diz que é criado um Ambiente Alfabetizador nas salas. Tudo é escrito e posto em um mural, para que as crianças tenham uma aproximação envolvente com esse tipo de linguagem: os “combinados” da professora com a turma, os aniversários, informações diversas, enfim, tudo que diga respeito às atividades da turma é transformado em palavras, e não é apenas escrito, mas lido individualmente e coletivamente. “Isso é uma facilitação do contato com o nosso mundo da escrita e é fundamental nas classes de alfabetização. É um registro do valor social da escrita e até mesmo nas aulas de matemática esse ambiente alfabetizador está presente”.

Os passos cognitivos da alfabetização
O caminho da garatuja à escrita é, segundo Emilia Ferreiro, organizado em níveis:

– O primeiro deles é o Pré-Silábico, quando as partes da escrita não correspondem às partes do nome. São utilizadas pseudoletras e símbolos, mas as letras vão surgindo, paulatinamente, aqui e ali, no processo. Nessa fase são explorados processos qualitativos e quantitativos, isto é, a criança observa tanto diferenças entre letras quanto tece hipóteses acerca de quantas letras são necessárias para escrever uma palavra.

– Em seguida, há o nível Silábico, no qual há uma percepção de identidade entre a quantidade de letras necessárias para escrever uma palavra e seus “pedaços fonéticos”, as sílabas. A criança faz corresponder uma grafia para cada sílaba, por isso é usual que escreva palavras formadas apenas por letras que representam o som de cada sílaba, o que demonstra um avanço em relação ao nível anterior.

– O terceiro nível é o Silábico-Alfabético e a criança já consegue ultrapassar em parte a hipótese silábica, a da representação de uma sílaba com uma só letra, usualmente uma vogal, e introduz mais letras à sua escrita, com um sentido mais elaborado da apreensão da linguagem escrita. Há a hipótese de que a sílaba pode conter não apenas uma, mas duas e até três letras, que será confirmada no nível seguinte.

– O nível final é o Alfabético, que é aquele no qual há o domínio da correspondência entre fonemas e grafias e uma maior compreensão da lógica da base alfabética da escrita, com a correta construção gráfica dos fonemas e a junção de sílabas, formando palavras.

Texto: Luiz Geremias
Fotos: Gilson Camargo

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