Na Terra Firme as crianças aprendem a cultivar o próprio alimento e o processo pedagógico incentiva ao envolvimento com o meio ambiente. Alunos e alunas da educação Infantil preparam a terra, plantam na horta da escola e os alimentos colhidos são usados na alimentação.
Quem entra na Escola Terra Firme se depara com muito verde. Árvores com vegetação diversificada, flores e, até mesmo nos corredores, a combinação de plantas e artes em exercícios pedagógicos feitos pelos alunos. Todos têm acesso aos espaços verdes e são protagonistas neles, construindo, plantando e debatendo sobre o que fazer, cada qual de acordo com suas referências e idade. Aprendem a cultivar a terra, a plantar e irrigar. Além disso, acompanham o crescimento e participam da colheita. Entendem como criar um ciclo sustentável, com as sobras da colheita virando adubo orgânico na composteira e sendo utilizado nas mudinhas e nas plantas da horta.
Sandra Cornelsen, fundadora e diretora da Terra, se entusiasma com o envolvimento dos alunos e alunas no processo de aprendizado junto ao meio ambiente. Segundo ela, há um cuidado para que sejam participantes e não ouvintes. “Isso pra mim é fundamental e é importante o reflexo que isso terá na vida dessas crianças e no ecossistema. Elas aprendem como se semeia e como se colhe, o que se planta junto para que as próprias plantas elaborem as suas defesas contra pragas, dispensando o uso de agrotóxicos. São plantações orgânicas e eles comem o que plantam. Isso agrega valor ao aprendizado e à vida”, diz.
Aprendizado que permanece – A importância de se ter comida saudável permeia o dia a dia da escola. Carmynha Santos, professora do Integral infantil e responsável pela horta, conta que, neste bimestre, trabalhou com as crianças do integral, tanto do fundamental I quanto do fundamental II, o Jogo da Feira. Nele, as crianças encenam a compra e a venda, lidando com alimentos de verdade e também com outros, confeccionados na escola com tecido. “Com esse jogo pudemos brincar com matemática, classificação das frutas, arte, o compartilhamento, quantidades, medidas e peso, além da educação alimentar, que foi feita junto com a nutricionista da escola, a Amélia Gomes”, conta.
Carmynha conta que a criança entra em contato com esses alimentos, produz as mudinhas, planta, cuida e depois colhe. Sabendo de onde vem a comida, ela tem mais vontade de comer bem, cria laço afetivo com o alimento. “As crianças misturam a salada com as frutas na hora do almoço, comentam que aquele alimento foram elas quem cuidaram e colheram, qual o nome das saladas quanto das frutas. Esse é um aprendizado que permanece”, afirma.
A horta tem, além das verduras tradicionais, espinafre e beterraba. Carmynha acrescenta que no próximo plantio haverá uma para outro tipo de planta de modo a dar tempo para a terra se reciclar. “O solo está sendo cuidado de forma orgânica, com adubo natural e isso fortaleceu a terra, além de óleo de neem, que espanta as pragas. Com esse cuidado, temos um resultado ótimo”, comemora.
Aprendizado vivo – Segundo Sandra Cornelsen, a criança precisa desenvolver uma análise crítica em relação ao seu contato com o ambiente que a cerca. “É preciso poder sonhar com o reinventar o planeta, gerando esperança e tendo a perspectiva de imaginar um mundo melhor, contribuindo para sua realização. Trabalhamos o contexto de forma ampla, como, por exemplo, quando discutimos o uso da bicicleta e o quanto isso pode refletir nos ambientes urbano e natural e, principalmente, como isso pode impactar na vida dessas crianças, em seu compromisso com a qualidade de vida”, explica.
A ideia, segundo ela, é gerar um círculo virtuoso com uma proposta pedagógica que está incorporada inclusive ao nome da escola. “O aprendizado vivo que o aluno tem instiga os pais e repercute em toda a comunidade escolar. O cuidado com o corpo e com a saúde também resulta desse contato. As crianças têm liberdade de experimentar, e esse é um desafio que faz parte da Terra Firme. O próprio nome da escola já remete ao cuidado com a terra para poder estar de pé nela, com firmeza”, afirma.
Texto: Karina Ernsen
Fotos: Carmynha Santos e Gilson Camargo
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