Os alunos e alunas da Escola Terra Firme tiveram um encontro inesperado na manhã do dia 28 de agosto. Receberam a visita de Ítalo Romano, skatista curitibano de grande fama que pratica este e outros esportes com bastante habilidade e sem o uso das pernas. É que ele teve que amputá-las depois de um acidente, quando tinha apenas 11 anos, ao tentar pular em um trem em movimento para chegar mais rápido a uma cachoeira na qual ia passar o dia com amigos. Apesar disso, Ítalo descobriu que podia levar uma vida ativa e independente, dedicando-se com afinco à prática esportiva. Ele conversou com as turmas do 6º, 7º, 8º e 9º ano, contando a sua experiência, respondendo perguntas e exibindo as suas habilidades no skate, vôlei, tênis e rollerski.
O início da conversa teve como tema o acidente sofrido e o momento vivido logo depois, quando Ítalo sentiu muita tristeza e mesmo algum desespero. “Perdi as pernas, o que vou fazer agora? Como vou estudar, como vou fazer para levar a minha vida no futuro, trabalhar, ganhar meu sustento?”, ele se perguntou. Desolado, ficava em casa, cheio de dúvidas, inclusive em relação a como iria ser tratado pelos amigos. “Um dia, pensei que tinha que encarar e fui para a rua brincar. Fui recebido com festa pelos meus amigos que disseram: estamos contigo! Isso foi muito importante”, disse, sem esquecer de mencionar que o acidente aconteceu porque não deu atenção aos alertas de sua mãe e o quanto a tragédia lhe ensinou que quando o adulto dá um limite é porque ele sabe o que pode acontecer.
Ítalo estava resolvido a viver, a aprender coisas novas, pediu emprestado o skate de um primo e descobriu que podia andar e fazer manobras com prazer e desembaraço. Inspirou-se em Og de Souza, outro skatista que não utiliza as pernas devido a ter contraído poliomielite na infância, e começou a mostrar que tinha uma real aptidão para o esporte. O skate o levou a Barcelona, a viagem virou vídeo e o vídeo “estourou” como ele mesmo diz. “Vi lágrimas de alegria nos olhos de minha mãe, veio o reconhecimento e a vida mudou”.
O sucesso foi tamanho que Ítalo apareceu em um programa de TV e realizou um desejo. “O Luciano Huck foi lá em casa, me levou no ‘Caldeirão’ e tornou realidade o meu sonho de encarar a megarrampa que o Bob Burnquist tem em sua casa na Califórnia, de 27m de altura”, contou. Ele foi o primeiro skatista sem as pernas a descer a altíssima rampa e terminou a performance plantando bananeira. Bob Burnquist é Robert Dean Silva Burnquist, um skatista carioca que alcançou reconhecimento mundial e é considerado o “Embaixador do Skate Brasileiro”.
Exemplo de vida – Os alunos e alunas ficaram encantados com Ítalo, sua força de vontade e o seu desembaraço no skate e em outras modalidades desportivas. E foram convidados por ele a também mostrar as suas habilidades. Giulia Karam, do 6º ano, jogou vôlei e Bruno Cavalheiro, também do 6º, jogou tênis, inclusive sentado na cadeira de rodas. Caelê Lima, do 7º ano, experimentou o rollerski e Arthur Beltrão, do 6º, andou de skate, tanto sentado, como Ítalo, como da forma como sabe melhor, em pé. Todos foram muito aplaudidos pelos colegas, que comentavam o quanto estavam admirados com a lição de vida recebida. “Sensacional! E que exemplo de vida”, exultou Renato Marçal, do 7º ano. Suas colegas de turma, Gabriela Marques, Karina Souza e Amaya Burg também estavam entusiasmadas. Gabriela e Karina comentaram que Ítalo faz, sem as pernas, coisas que elas não conseguem fazer e Amaya foi taxativa e resumiu o sentimento do grupo: “Com tudo o que ele passou, não se abateu. Nunca mais vou reclamar da minha vida”.
Ferramenta transformadora – Thamy Padilha, coordenadora do Fundamental I e II, do 3º ao 9º ano, disse que a história de Ítalo Romano é um exemplo de superação e garra. “Os alunos estão tendo contato com a realidade de uma pessoa que teve tantas dificuldades e as superou”, declarou. Daniela Carneiro, professora de Educação Física da Terra Firme, que foi a responsável pelo contato com o skatista, chamou a atenção para o fato de que ele teve um trauma muito grande e o superou pelo esporte, encontrando motivação para continuar vivendo e se superando. “O esporte é uma ferramenta transformadora, pois traz disciplina, consciência corporal, hábitos nutricionais diferenciados e inibe o contato precoce com o álcool e demais drogas”. Diogo Souza, psicomotricista relacional, avaliou como muito importante e produtiva a conversa de Ítalo com os alunos e alunas. “Nós aprendemos com as dificuldades e frustrações e ele é um exemplo disso”.
Texto: Luiz Geremias
Fotos: Gilson Camargo
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