As crianças do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Terra Firme, orientadas pela professora Katia Bassetti, visitaram o Museu de Arte Indígena (MAI), no bairro Água Verde.
O espaço reúne um relevante acervo de arte cerâmica, plumária, armas, cestarias, adornos, máscaras e objetos ritualísticos de várias tribos brasileiras, colecionados durante duas décadas pela pesquisadora Julianna Podolan Martins, criadora do museu inaugurado em Clevelândia em 2009 e transferido para Curitiba em 2016, que recepcionou e monitorou a visita dos alunos.
O 2º ano trabalha o projeto “Crianças como você” – a partir do livro com o mesmo nome, de autoria dos fotógrafos Barnabas e Anabel Kindersley -, e viaja pelas diferentes culturas do mundo, mostrando o cotidiano das crianças nos mais variados países. A viagem começa pelo Brasil, mais precisamente pelo Pará, na casa da índia Celina. Com a visita ao museu as crianças puderam conhecer de perto essa cultura rica e autêntica dos primeiros moradores da nossa terra.
Sandra Cornelsen, diretora e idealizadora da Terra Firme, defende a ideia de que a escola não está num mundo à parte e é um centro cultural que tem o dever de divulgar e interagir com o que está ao seu redor. Ela lembra que a interação entre a sala de aula e a realidade na qual está inserida é fundamental. “A criança aprende por meio da interação com o objeto de aprendizagem. Em nossa escola aprender é viver o mundo”, diz.
A produção plumária dos indígenas do Brasil é reconhecida como uma verdadeira linguagem visual, um reflexo requintado de culturas ricas e complexas, merecedora do estatuto de arte e digna de estudos e pesquisas. O uso de artefatos plumários, necessita considerações a partir da perspectiva espaço-temporal, na medida que prescrições sócio culturais regulam as ocasiões de utilização.
O uso de soluções técnicas, estéticas, e com variados elementos combinados entre si, como garras, sementes, couros, pelos de mamíferos, cocos, cápsulas de frutos, cabelos humanos, conchas fluviais, ossos de animais, espinhos, contas, taquaras, fios de algodão, fitas de fibras vegetais, em especial das palmeiras, conferem à plumária a categoria de maior notabilidade da cultura material dos indígenas brasileiros.
A plumária subdivide-se em adornos corporais, máscaras ritualísticas e artefatos diversos. Porém, são os adornos corporais os mais relevantes, pois, “ornar-se” constitui uma característica universal pela construção social do corpo humano. O aprendizado das técnicas de emplumação são atividades masculinas, que só são permitidas aos homens adultos após ritual de iniciação. As aves são consideradas sagradas, pois representam seus antepassados que transitam entre o céu e a terra.
Manto cerimonial Juruna, povo indígena que vive disperso na margem direita do médio e baixo Rio Xingu. O nome Juruna, significa “bocas-pretas” em Tupi-Guarani, porque a tatuagem desse povo era uma linha que descia da raiz dos cabelos e circundava a boca.
Grinalda Cobre Nuca “Myahara”, da etnia Rickbatsa, também conhecidos como Orelhas de Pau, Canoeiros, que vivem na bacia do Rio Juruena/MT. Adorno produzido com plumas de araras e mutum cavalo, cabelos humanos, tinta vegetal, cordéis de algodão e breu.
Luva da Tocandeira, da etnia Saterê e Mawé/AM, usada no ritual de iniciação masculina da tribo. Nela são fixadas formigas “tocandeiras” vivas, consideradas as mais venenosas do mundo.
O armamento indígena é utilizado para as funções de guerra e para as tarefas de provimento da subsistência, tais como caça e pesca. As armas de ataque dividem-se em armas de arremesso, armas de choque e armas de sopro.
Armas de arremesso: são de ataque a pequena, média ou grande distância. A característica principal é serem perfurantes. Dividem-se em armas de arremesso simples, formadas de um único elemento, como a lança, a boleadeira, e o murucu, que é uma lança com ponta ervada; e armas de arremesso complexas, formadas por dois elementos, como arcos com flechas ervadas (curabis) e dardos.
Armas de choque: são armas ofensivas para combate próximo ou para caça de animais de maior porte. São exemplificadas pelas bordunas com suas variantes determinadas pelo corte transversal da metade inferior da arma e por detalhe ornamental.
Armas de sopro: compreende unicamente a zarabatana, que consiste em um tubo longo que, através do sopro de ar comprimido expele dardos envenenados com curare.
“No início, no mundo não havia maldade. E Tupã, deus dos ventos, raios e tempestades, filho do Deus Pai Nhanderu e Nhandexy vem à Terra na forma de um relâmpago muito forte, acertando um belo bambuzal, fazendo despertar o espírito Takuapy através das chamas. Nasce o amor entre eles.”
Mito Guarani-Mbya contado à beira da fogueira pelos parentes de Kuaray Guata Porã, em Guaraqueçaba/PR.
Texto e fotos: Gilson Camargo