Nesta reportagem/depoimento, relato brevemente o que vi e ouvi não apenas na Mostra de Projetos e na Formatura do Ensino Fundamental, realizados no encerramento do ano de 2021, mas no tempo em que acompanho jornalisticamente as atividades dessa escola que encanta.

Há nove anos estou na Terra Firme. Em primeiro lugar, como pai da Alice. Concomitantemente, acompanhei o trabalho de minha esposa, Karina, parceira na vida e na profissão. Foi ela que passou a criar, coordenar e executar as ações de comunicação na escola no mesmo momento em que nossa filha ingressou no 1º ano. De alguns anos para cá, eu próprio assumi a cobertura de eventos os mais diversos, em sala de aula e fora dela. Posso, assim, dizer que tenho uma relação bastante próxima com a Terra Firme.

Trata-se de uma escola diferenciada, singular, com suas qualidades e seus problemas. Por sinal, creio ser possível dizer que um dos principais fatores que a tornam diferenciada é exatamente a forma como a sua equipe encara e resolve os problemas. E a Mostra de Projetos que fechou o ano de 2021 escancarou essa verdade diante de mim. O que ali estava exposto representava bem mais do que os trabalhos escolares realizados e conhecimentos adquiridos pelos alunos e alunas.

Reinvenção

Nos textos, desenhos e colagens, jogos e maquetes, estava a comprovação de que professores e estudantes criaram novas formas de se comunicar e compartilhar informações. Vencendo as barreiras do distanciamento social, encontrando recursos tecnológicos para ensinar e aprender, crianças e adolescentes, professoras e professores, se integraram de forma especial. “Não foi uma adaptação, foi uma reinvenção, uma construção”, definiu Kelly Cordeiro Munhoz Joaquim, coordenadora do Fundamental I.

Brunna Bassetti, que coordena a Educação Infantil e o Fundamental II, me relatou a mesma percepção. “Foi uma superação de todos, tiro o chapéu para a equipe. Tenho muito orgulho de fazer parte dela”. Brunna conta que, na busca de estratégias pedagógicas para vencer o distanciamento imposto pela pandemia da covid-19, professores e professoras aprenderam a utilizar os recursos disponíveis, conciliaram o ensino presencial e o on-line e conseguiram transmitir conhecimentos e saberes com a participação ativa e interessada de alunas e alunos. Isso, sem dúvida, estava bem visível na mostra que encerrou o ano letivo.

Brilho no olhar

A Mostra de Projetos foi a primeira realizada desde o início da pandemia. Sandra Cornelsen, fundadora e diretora pedagógica da escola, viu mães e pais emocionados ao entrar na escola. Por conta dos quase dois anos da pandemia, houve quem jamais tinha presenciado a Mostra. Alguns nunca tinham entrado na Terra Firme e a tudo examinavam com um brilho no olhar. “Foi impactante, para muitos, conhecer o ambiente de liberdade que há na escola, ver como seus filhos se desenvolveram, como estavam conscientes e orgulhosos de mostrar aquilo que realizaram no semestre”, declarou Sandra.

Um dos pais com quem conversei, Gunther Furtado, pai de Miguel, do 7º Ano, conhece bem a Terra Firme. Elogiou a organização e a disposição dos trabalhos exibidos e não se disse surpreso. “Vemos os conhecimentos apresentados de forma integrada, tudo se relaciona. E essa é a proposta da escola”, afirmou. Eu, como pai, concordo com Gunther e, embora já tenha entrado tantas vezes na Terra, posso dizer que fui um dos que carregou um irrefreável brilho no olhar.

Satisfação de estar junto

O professor de Matemática, Gustavo Hagebock Guimarães, me contou que percebeu os alunos e alunas com mais autonomia nas apresentações. Disse que os estudantes do ensino presencial e os do on-line se integraram nas atividades propostas, trabalhando em conjunto. Um exemplo disso, pude ver na apresentação da atividade de construção de um minigolfe, em uma integração das disciplinas de Matemática, Ciências e Educação Física. Cobri essa atividade na escola e, na Mostra, pude conhecer o que os alunos do ensino on-line fizeram em casa. Afirmo que fiquei gratamente surpreso.

Sentindo-se realizado, Gustavo me falou algo que certamente explica o seu sucesso e o dos demais docentes da escola: “Para mim, em primeiro lugar, está a satisfação de estar com as crianças. Ensinar é uma consequência disso”. Eis o ponto: nestes nove anos de Terra Firme, reportando aulas de todas as turmas, não vi sequer um professor ou professora da escola que não transparecesse a satisfação de estar com seus estudantes. Esse é o motivo, entendo, pelo qual a equipe encara de forma aberta e efetiva os problemas, se reinventando quando é necessário. E esse é, como já disse, um dos grandes diferenciais da Escola Terra Firme. Acima de tudo, a gente percebe que há a satisfação de estar junto, numa parceria que envolve estudantes, mestres, funcionários, direção e familiares.

Nesse sentido, afirmo que o brilho visto nos olhos nos familiares que visitaram a Mostra de Projetos é muito semelhante àquele que me acostumei a ver no olhar que cada integrante da equipe dirige aos alunos e alunas. Na verdade, aquele existe, em boa parte, como reflexo deste.

Momento inesquecível

Encerrando as atividades de final de ano, a escola realizou a formatura da turma do 9º ano do Ensino Fundamental. A formatura da minha querida Alice e de seus colegas, amigos e amigas, foi uma cerimônia que levou muitos de nós, familiares, às lágrimas. Em primeiro lugar, pela emoção de ver nossas “crianças” concluir um ciclo. Mas, do mesmo modo, pela beleza do evento, no qual todos os formandos falaram, homenagearam professoras e professores, expressando seus sentimentos pelo momento inesquecível.

O meu motivo para escrever este texto na primeira pessoa vem da emoção proporcionada por esse momento inesquecível. Acostumado a reportar acontecimentos de forma potencialmente imparcial, senti-me compelido a assinar este texto, imprimindo nele parte do que sinto. E, nesse espírito, dizer a todos que o lerem o quanto me sinto grato à Escola Terra Firme e o quanto me sinto feliz com o privilégio de ter podido, nestes nove anos, acompanhar tão de perto a sua instigante e inspiradora prática pedagógica.

Luiz Geremias