Sandra Cornelsen publica seu primeiro livro e o tema é a inclusão com a psicomotricidade relacional. Com mais de 30 anos de experiência na aplicação dessa metodologia na pedagogia, a fundadora e diretora pedagógica da Escola Terra Firme fala de sua experiência no acompanhamento de uma criança autista. O lançamento aconteceu durante a Mostra de Projetos na Terra e no Centro Internacional de Análise Relacional (CIAR).

O título, “O autismo acolhido pela psicomotricidade relacional”, diz muito do trabalho realizado por ela, com sucesso, e a narrativa ilustra as dificuldades enfrentadas, bem como as estratégias para superá-las. É uma obra que desperta o interesse não apenas de pedagogos e psicólogos. Agrada a todos os interessados nos temas abordados e preconiza que a escola deve ser para todos, acolhendo as diferenças.

Trata-se do relato de um caso de autismo grave, de sua trajetória na inclusão escolar e na conquista de progressos pessoais com a ajuda de Sandra e da psicomotricidade relacional. “Quando o conheci, ele tinha 5 anos e não falava, se autoagredia, agredia outras pessoas. Ao concluir o trabalho, dois anos depois, ele já falava, conseguia articular frases com sentido, olhava para as pessoas e as respeitava, se comunicava com elas. Aprendeu a brincar e a emprestar brinquedos”.

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Uma leitura para todos

O trabalho realizado não foi apenas com a criança. Sandra esteve próxima de todos que conviviam com o menino, que morava em Salvador, na Bahia. Mensalmente, ela viajava até lá para passar cinco dias com a família e, nesse tempo, dava total assistência não apenas aos familiares, como às professoras que o acompanhavam e demais profissionais envolvidos. E o resultado não podia ter sido melhor. “Levei-o a um show de percussão em Salvador e ele dançou o tempo todo, mostrando uma soltura corporal que não tinha, adorando ouvir a música. E quando comecei a trabalhar com ele, detestava todo tipo de som”.

“O trabalho que fiz, com base na psicomotricidade relacional e no afeto, está descrito no livro. É uma leitura para todos, trata não apenas de uma criança com necessidades educacionais especiais, mas de todas as crianças, todos os pais e mães podem ler”, explica Sandra. E garante que não vai parar por aí. Está com muitas e boas ideias, algumas relacionadas ao momento pós-pandemia. “Meu desejo é escrever, acredito que posso ajudar muita gente e quero deixar um registro daquilo que aprendi, porque são muitos anos na Educação. E este momento que sucede a pandemia merece atenção especial, quero tentar ajudar”.

psicomotricidade relacional - sandra cornelsen

A psicomotricidade relacional mudou a minha vida

Sandra conheceu a psicomotricidade relacional em uma palestra que assistiu na Espanha, em 1989. Andre Lapierre e Bernard Aucouturier, os palestrantes, apresentaram essa proposta inovadora, um espaço de liberdade no qual a criança pode, brincando, manifestar e vivenciar simbolicamente os seus conflitos. Desenvolve, assim, uma melhor relação consigo e com o outro pela expressão simbólica. “A psicomotricidade relacional mudou a minha vida, a história da minha vida”, diz.

Com base na teoria psicológica de Freud e no construtivismo de Jean Piaget, esse método, que supera a mecanicista psicomotricidade clássica, trabalha com ênfase na afetividade e tem duas vertentes básicas. Pode ser utilizada como intervenção terapêutica geral, incluindo o atendimento a adultos, ou no âmbito escolar, com objetivos pedagógicos. “Nos dois casos, o que se busca é a reconstrução simbólica de um conflito”.

Segundo Sandra, em uma sessão ou vivência de psicomotricidade relacional tudo é permitido, menos machucar a si mesmo e ao outro. “Essas são as regras, o ‘combinado’. O que se faz na sala é um jogo simbólico, um jogo de faz de conta, e cada objeto que lá está, tecidos, bolas, arcos, cordas, caixas de papelão, jornal e aquelas boias de piscina chamadas ‘macarrão’, tem um significado simbólico. Por vezes, o material que vai ser utilizado é escolhido pelas crianças ou adolescentes, em outras, é o psicomotricista relacional que escolhe, se houver algum conflito específico a ser trabalhado”.

psicomotricidade relacional André Lapierre, Sandra Cornelsen, Katia Bassetti, Lulu Fisher e Leopoldo Vieira.

A psicomotricidade relacional é vida na Terra Firme

Juntamente com Andre Lapierre e sua filha Anne, Sandra Cornelsen levou a psicomotricidade para a Terra Firme. O planejamento e a implantação contaram ainda com a participação de Leopoldo Vieira, diretor do CIAR e do experiente psicomotricista relacional Daniel Silva, que até hoje acompanham o trabalho. “As bases das vivências na Terra Firme foram sempre orientadas pelos meus formadores e o trabalho na escola é supervisionado por mim”.

Em 30 anos de utilização da psicomotricidade relacional na Terra Firme, Sandra nunca soube de uma criança ou adolescente que não quis participar de uma vivência. “O conflito é reconstruído brincando, as relações melhoram. Eles começam a fazer com 2 anos e vão até os 15, dentro de uma rotina escolar, dentro do currículo escolar. Até o 1º ano, fazem uma vez por semana, porque a necessidade deles é maior de trabalhar o corpo, de viver o corpo. A partir daí, as vivências acontecem a cada 15 dias”.

Todos os professores da Terra têm que passar periodicamente por essa experiência e o fazem no CIAR. No cotidiano escolar, também participam junto com os alunos e alunas, porque sabem que é importante o que acontece nessas vivências. “Até o 5º ano, as professoras acompanham suas turmas. Já do 6º ao 9º ano, isso não necessariamente acontece e utilizamos dois psicomotricistas, um homem e uma mulher, a figura masculina e a feminina. Isso, porque trata-se de uma idade mais sexualizada, e essas figuras são importantes nesse momento”.

Links externos:

A Escola Terra Firme é pioneira na aplicação da psicomotricidade relacional no ambiente pedagógico:
https://efdeportes.com/efd128/a-aplicacao-das-teorias-da-psicomotricidade-no-ensino-fundamental.htm
https://escolaterrafirme.com.br/wp/psicomotricidade-relacional-na-educacao-um-processo-de-humanizacao/